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Análise: The Emoji Movie

  • Foto do escritor: F. S. Lawliet
    F. S. Lawliet
  • 6 de fev. de 2018
  • 5 min de leitura



Há um motivo pelo qual eu detesto um formato tradicional de críticas culturais, sejam elas sobre o que for. Pois nesse tipo de texto, tudo se resume a uma questão fixa e inescapável: O produto que experienciei vale a pena ou não para outros? Essa pergunta não considera especificidades que podem atrair um certo público e não a outro, e resume toda a complexidade de um primeiro contato com a obra em um Ver-Ou-Não-Ver. Para mim, é textualmente arbitrário e excludente, e procuro correr desse formato sempre que possível.


Dito isso, essa análise vai tentar AO MÁXIMO falar, da maneira mais imparcial possível, das estratégias persuasivas do que eu considero uma mancha corrosiva no nosso cânone cinematográfico do qual nunca poderemos mais escapar. E, além disso, de como as maneiras de convencimento acabam funcionando contra a própria fábula e trama deste comercial de 86 minutos disfarçado de animação infantil, recheado até o talo de piadas fáceis, humor superficial e que se pauta na superfluidade da nossa vida movida a aplicativos num celular.


The Emoji Movie (no português, Emoji: O FIlme), foi dirigido por Tony Leondis, que também trabalhou no departamento de animações de The Lion King II: Simba’s Pride e The Prince of Egypt, ambos de 1998, e The Road to El Dorado, de 2000, e cujo primeiro trabalho como diretor foi com Lilo & Stitch 2: Stitch Has a Glitch, de 2005. O filme conta a história de Gene, um emoji meh que mora em Textopolis, uma cidade de emojis localizada dentro de um aplicativo de mensagens no telefone de um garoto chamado Alex. É o primeiro dia de Gene no trabalho de ser enviado pelo aplicativo, mas ele não consegue sustentar a sua expressão de meh, exibindo o tempo todo as outras carinhas de outros emojis. No entanto, tudo dá errado quando Gene entra em pânico ao ser utilizado pela primeira vez, saindo com uma cara toda errada na mensagem de Alex, e por ser considerado um defeito que precisa ser deletado, entra numa fuga através de todos os outros aplicativos presentes no telefone.


A trama do filme se propõe a vender uma mensagem de inclusividade. O personagem principal, Gene, é um emoji que consegue se expressar de múltiplas formas, enquanto é exigido que cada emoji sempre se expresse de uma única forma; logo, ele é considerado uma falha, apesar de ser essa falha que salva o telefone inteiro de ser formatado (sério). Um de seus parceiros em sua fuga, Jailbreak, é um emoji de princesa que, ao cansar do papel sexista de sua persona, conseguiu fugir do aplicativo de mensagens e se tornou uma hacker que quer sair de

vez do telefone e ir para os servidores em nuvem, e que na maior parte das vezes ajuda Gene e seu outro companheiro, o Bate Aqui (o emoji) com suas habilidades de manipular os códigos do aplicativo, com a exceção de um único crucial momento que será falado em breve.


Estes dois personagens são os que carregam a temática inteira do filme, e os diálogos entre eles mostram isso. Gene procura Jailbreak pois precisa que ela o reprograme para que ele possa ser apenas meh, o que ela aceita em troca de sua ajuda para acessar o mundo livre da nuvem (através do Dropbox. Sério.). E ainda assim, aliado a algum chavão adolescente sobre grilhões e regras do sistema, aqui representado pelo emoji Smilers e seu controle obviamente tirânico e fascista do aplicativo de mensgens, Jailbreak diz que, para ela, Gene já é legal do jeito que é, sendo essa tese reforçada pela maneira que o conflito do filme termina. Em um nível superficial, os discursos pelos dois apresentados casam com o que Adilson Citelli chama em seu livro Linguagem e Persuasão de discurso lúdico, ou seja, um discurso que, por mais que tente persuadir o leitor de uma determinada ideia, o faz de maneira leve e sempre brincando com sensações e a polissemia de sentidos. Esse discurso é mais comumente encontrado em obras artísticas que promovem plurissignificânica e ambiguidade através de uma interpretação mais aberta.


No entanto, a pressa em parecer aprazível a um suposto público caricatamente viciado em smartphones aliada ao alto número de marketing diretos e indiretos faz com que o filme perca toda a sua possível natureza lúdica. Há uma sensação de assistir uma história feita por alguém que não faz ideia de como a cabeça desse público realmente funciona, e que precisa de propagandas e mais propagandas para alguma evolução de trama e de personagens. E isso não apenas dá um ar mais autoritário aos discursos do filme como um todo, mas também funciona contra a própria mensagem de inclusividade que o filme se propõe a transmitir, trazendo no lugar um pesadelo totalitarista nas mãos não da tirânica Smilers, mas do dono do telefone, Alex.


Existe um grande problema, contornado por poucos como Machado de Assis em seu conto Um Apólogo, em antropomorfizar ferramentas ou objetos com um uso determinado em uma trama na qual também há humanos presentes. Pois qualquer relação entre as pessoas e os objetos com características de pessoas se torna implicitamente autoritária. Qualquer revolução trazida pela expressão de múltiplas emoções de Gene só foi permitida no filme porque ajudou a Alex a conseguir a atenção da garota da qual ele gostava. Se Gene não atendesse aos caprichos de Alex, o telefone ainda seria formatado e todos sumiriam. E como Gene detém até mais características humanas do que outros emojis, entramos no perigoso terreno do que Max Horkheimer definiu como racionalidade instrumental, termo que designa o estado em que os processos racionais são completamente operacionalizados, ou seja, todo e qualquer processo

racional feito por alguém deve servir a um fim específico e da maneira mais eficiente possível, ignorando qualquer crítica ou qualquer questão maior.


Por isso, a tese da inclusão de um emoji que apresenta diferentes expressões cai por terra pois todas as soluções aos principais problemas da trama são trazidas por alguma característica dita como “natural” à função definida por cada emoji. Os exemplos seguem: Bate-Aqui acaba com o robô anti-vírus maligno pois é uma mão e o robô possuía um botão de destivar, e mãos apertam botões; Jailbreak, para salvar Gene depois que o mesmo é pego pelo robô anti-vírus maligno, reverte ao seu estado original de princesa e assobia para que o pássro do logotipo do Twitter a leve de volta para Textopolis (algo similar a isso seria como se, no filme Mulan, a heroína salvasse o dia cozinhando uma refeição quente para sua família enquanto lava a louça e as roupas). E até mesmo Gene possui uma origem hereditária em sua falha como emoji, já que seu pai também é capaz de expressar múltiplas emoções.


Por fim, The Emoji Movie não deveria ser visto por ninguém como forma de entretenimento. Para adultos, é ofensivamente chato, sem graça e entediante, se não puro indutor de raiva. As crianças estarão dispersas com outra coisa na marca dos 20 minutos de filme. No entanto, este filme pode sim servir como material de análise de como uma obra pode falhar completamente em ser artística e, puxando o gancho de uma fala no início do filme que diz que “os emojis são a forma de comunicação mais importante do mundo”, em ter qualquer preocupação em representar veridicamente algum público.

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